A codependência entre idoso e cuidador e por que é algo que deve ser evitado

É muito importante que a pessoa idosa e o cuidador tenham uma boa relação, sejam capazes de criar um vínculo de respeito, confiança e se possível, amizade. Mas apesar disso, em alguns casos, essa relação pode passar para um outro patamar: o da codependência.

A codependência é uma relação que se baseia no excesso de zelo e de cuidado, no qual uma pessoa se submete excessivamente às necessidades, desejos e emoções de outra. E isso muitas vezes em detrimento de seu próprio bem-estar. A codependência é frequentemente associada a relacionamentos nos quais uma das partes, conhecida como o “codependente”, coloca as necessidades da outra pessoa, muitas vezes chamada de “dependente” (que pode ser alguém com problemas de vício, saúde mental ou emocionais), acima das suas próprias necessidades e bem-estar.

 

Por que a codependência não deve ser estimulada?

A relação da pessoa idosa com um cuidador é uma relação de confiança, capaz de fornecer um espaço de estímulo para que ela possa realizar as suas atividades da vida diária com auxílio ou, em alguns casos, apenas com orientação e supervisão, porém quando ele vínculo se torna uma codependência, a pessoa idosa passa a ter uma vinculação quase ou completamente exclusiva com aquele cuidador, de forma que compara aquele profissional com outras pessoas e pode vir a se tornar arredio ao cuidado de terceiros, sejam eles cuidadores profissionais ou familiares. Essa relação se torna um empecilho na convivência da pessoa idosa com outras pessoas, visto que n ausência do seu cuidador de referência, pode apresentar mais episódios de agressividade, recusar-se a colaborar com os seus cuidados e fragilizar a vinculação com outros profissionais comprometidos.

Além disso, geralmente as relações de codependência também tem implicação direta na forma como o cuidador se relaciona com as outras pessoas do meio da pessoa idosa, assume um ar mais autoritário, onde compreende que nenhuma outra pessoa é capaz de desempenhar a sua função de forma correta, visto que o vínculo criado com a pessoa idosa é algo singular, incompreensível para as pessoas do seu entorno.

Principalmente nos casos em que a pessoa idosa possui mais de um cuidador formal, esse tipo de relação não deve ser estimulado, pois existe a necessidade de compartilhar sempre os saberes e os melhores manejos de lidar com a pessoa, possuir uma comunicação honesta e humilde para que todos possam realizar o trabalho de forma comprometida com o bem-estar, sem colocar em questão a disputa de ego profissional.

Quando todos cuidam bem da pessoa idosa, todos saem ganhando, pois o trabalho flui com maior naturalidade, todos se sentem realizados profissionalmente, a família pode se sentir mais confortável e confiante com o serviço prestado, e a pessoa idosa pode se sentir acolhida na tua totalidade de necessidades.

 

Como é possível evitar a codependência entre a pessoa idosa e o cuidador?

Em primeiro lugar, é importante compreender se o cuidador profissional possui as qualificações interpessoais necessárias: humildade, facilidade no trabalho em equipe, comprometimento e boa comunicação interpessoal. Esses pontos são fundamentais para compreender que o profissional é capaz de desempenhar a sua função, além de ser um bom ouvinte tanto dos profissionais com quem trabalha quanto da pessoa idosa que atende.

A comunicação entre os cuidadores formais deve ser sempre mediada pelo responsável da pessoa idosa ou pelo responsável da equipe, a fim de garantir a fluidez da comunicação e evitar a estimulação de um ambiente de competição, mas sim estimular um ambiente de colaboração e empatia pelo trabalho em conjunto. É importante sempre deixar claro na equipe que o tempo de serviço não adquire nenhum tipo de grau ou de favoritismo ao profissional, pois o longo período na oferta de cuidado exclusiva para um idoso é capaz de gerar esse vínculo, a sensação de que conhece a pessoa idosa melhor do que os colegas, uma sensação de “pertença” que rapidamente se torna indesejada. É necessário que os funcionários com mais tempo de prestação de cuidado possam ser mentores dos mais recentes, compartilhar as suas experiências e algumas dicas no manejo, a fim de garantir que os novos profissionais também possam alcançar um excelente desempenho.

O papel de mentor, mais uma vez ressaltado, deve ser assumido com humildade e nunca com soberania, a fim de garantir uma comunicação qualificada e empática para que um bom trabalho em equipe seja realizado, essa é a importância de ter uma pessoa responsável pela equipe para mediar tais relações.

 

E quando a codependência já existe, como lidar e reverter a situação?

Em casos em que a situação foi detectada como existente, onde já existe o prejuízo das relações sociais da pessoa idosa com os outros cuidadores ou até mesmo com familiares, é possível tomar algumas medidas para reverter essa situação:

Reconhecimento da relação de codependência:

É necessário que a pessoa idosa reconheça que existe uma relação disfuncional de cuidado, assim como o cuidador. Uma das formas de desenvolver essa consciência é elencar os defeitos e os erros dos outros cuidadores, buscar entender qual é a dificuldade no manejo dos outros profissionais e desmistificar essa sensação de que apenas aquele profissional executa o trabalho de forma qualificada.

Caso necessário, busque ajuda profissional:

Em alguns casos pode haver a necessidade de encaminhar a pessoa idosa para um profissional de psicologia, a fim de auxiliar no processo de conscientização e o mesmo pode ser oferecido para o profissional do cuidado, caso seja pertinente.

Defina limites saudáveis:

Tanto o cuidador quanto a pessoa idosa precisam estabelecer limites saudáveis. Isso pode envolver a definição de limites em relação ao tempo gasto juntos, à ajuda fornecida e à independência da pessoa idosa.

Encoraje a independência:

É importante incentivar a independência da pessoa idosa sempre que possível. Isso pode incluir ajudá-la a realizar tarefas cotidianas, mas também permitir que ela tome decisões e aja por conta própria quando apropriado, sem a presença do cuidador de referência ao qual a mesma possui codependência.

Cuide de si mesmo:

Os cuidadores muitas vezes se negligenciam em favor da pessoa que estão cuidando. É fundamental cuidar de sua própria saúde física e mental, por isso é importante incentivar o cuidador a tirar tempo para si mesmo, buscar apoio de outros cuidadores ou familiares e participar de grupos de apoio.

Comunicação aberta e respeitosa:

A comunicação é essencial para superar a codependência. Converse com a pessoa idosa de maneira respeitosa sobre as mudanças necessárias e ouça suas preocupações. Uma comunicação aberta pode ajudar a criar um ambiente mais saudável para ambos.

Avalie o apoio profissional:

Caso essas sugestões não sejam eficientes, é possível avaliar a possibilidade da desvinculação do profissional do cuidado, a fim de evitar maiores danos para as relações e buscar o acompanhamento profissional de um psicólogo para lidar com os efeitos dessa separação.

 

Nas unidades do Terça da Serra, além das nossas equipes de cuidados diários, temos também uma Gerente de Operações e uma responsável pelo treinamento de todos os nossos franqueados, onde uma das nossas orientações é sobre o compromisso em equipe com o cuidado da pessoa idosa. Venha conhecer uma das nossas unidades e conferir o nosso trabalho!

 

 

 

 

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