Idoso é incapaz? Vamos falar sobre a dependência aprendida

Existe uma cultura na nossa sociedade de ajudar a pessoa idosa em tudo que ela precisa fazer. Isso porque nós queremos ser solícitos, estar presente e próximos e fazer com que a pessoa se sinta acolhida. Não é incomum ver uma pessoa idosa andando com dificuldade e, em casos de pessoas conscientes, oferecer ajuda para que ela atravesse a rua, ajudar a carregar as suas sacolas, são gestos extremamente cortês e muito bem-vindos, mas devemos tomar cuidado para não “ajudar demais”.

 

O mito da incapacidade

É muito comum que nós tenhamos um cuidado com a pessoa idosa fragilizada. Principalmente em caso de doenças de demência, onde queremos protegê-la de fazer qualquer tipo de esforço, pois há um senso comum que acredita que ela já não consegue mais, que no envelhecimento não se aprende mais nada, só se desaprende e é dessa concepção que vem o mito da incapacidade, pois ele nada mais é do que isso: um mito!
Muitas vezes, a sociedade associa automaticamente a velhice à incapacidade. No entanto, é essencial desconstruir esse estereótipo e entender que a capacidade de um indivíduo não está diretamente ligada à idade. Existem idosos saudáveis e ativos que desafiam essa crença generalizada. É importante reconhecer que a incapacidade não é uma característica inerente à idade, mas sim uma condição que pode ser influenciada por diversos fatores, como condições de saúde, estilo de vida e ambiente social.
É por este motivo que devemos compreender a importância da estimulação cognitiva, física e principalmente sensorial para a pessoa idosa, a fim de garantir que ela busque sempre tentar preservar ao máximo a sua autonomia, o que gera muito mais dignidade para o seu processo de envelhecimento.
Devemos compreender que mesmo o idoso mais fragilizado, mesmo aquele com maior dificuldade em realizar qualquer atividade da vida diária, ainda sim ele é detentor da sua autonomia e é possível estimular isso de forma sensorial, onde nós daremos alguns exemplos mais à frente.

 

O que é a dependência aprendida? Com se apresenta?

A dependência aprendida é um conceito psicológico que descreve a tendência de uma pessoa se tornar dependente de outras para satisfazer suas necessidades e tomar decisões. Esse padrão comportamental é desenvolvido ao longo do tempo, através de experiências e interações sociais. No caso das pessoas idosas, a dependência aprendida se torna uma frequência no contexto das atividades da vida diária, quando a pessoa idosa não é mais estimulada a fazer as coisas de forma independente, naturalmente ela começa a passar por um processo de desestímulo, onde muitas vezes pode iniciar até mesmo um processo de degradação ainda mais avançado da demência, pois ela perde com mais facilidade as memórias que tinha de como agir e de como fazer determinadas ações.
É muito comum que cuidadores informais ou até mesmo alguns serviços sem uma estrutura para atender o número de idosos não tenha concepção disso e a fim de agilizar o processo, acabe por fazer a ação no lugar da pessoa idosa. Vamos dar um exemplo:
A pessoa idosa tem um ritmo vagaroso em se alimentar, possui uma certa dificuldade de levar o talher até a boca, acaba por fazer sujeira na roupa e na mesa quando se alimenta sozinha e assim, para evitar todo esse cenário, o cuidador toma a frente e inicialmente começa a dar a comida na boca da pessoa idosa, o que faz com a demência avance e faça com que a pessoa idosa se esqueça como é que deve ser feito o movimento de levantar o talher até a altura da boca e aproximar o seu tronco para perto da mesa. Após um tempo, a pessoa idosa também demora muito a mastigar, por vezes ocorre episódios em que ela se engasga e a sua comida passar a ser entregue em formato pastoso, o que faz com que a pessoa idosa passe a perder o sentido de mastigar e esqueça, pouco a pouco, como é que é feito esse movimento e assim por diante.
É muito comum que a dependência aprendida seja sempre justificada pelo caráter de “cuidado”, então faz-se as ações no lugar dela, a fim de garantir que ela não tenha dificuldades, não tenha desafios, não tenha problemas, porém a longo prazo, os prejuízos deste tipo de ação são muito maiores.
No entanto, é importante destacar que a dependência aprendida não é uma característica permanente e pode ser superada, por isso falaremos mais sobre isso.

 

Como superar a dependência aprendida?

A dependência aprendida não é um estado permanente e pode ser superada com o tempo e esforço adequados. Existem várias maneiras de ajudar alguém a superar a dependência aprendida, vamos listar aqui algumas ações para isso:
Ter empatia e paciência: a dependência aprendida só será superada com muita empatia e paciência por parte dos cuidadores, pois dá muito mais trabalho do que simplesmente fazer pelo outro, mas tem resultados muito mais benéficos. É necessário que a pessoa que cuida compreenda essa importância, e possa reconhecer que a pessoa idosa merece um atendimento com foco na sua dignidade.
Estímulos diários: todos os dias, mesmo que a pessoa não se sinta capaz, deve ser feito o estímulo para que a pessoa tente realizar aquela tarefa sozinha, a fim de promover a autoconfiança necessária para realizar a ação. Isso pode ser feito encorajando a pessoa a assumir responsabilidades progressivamente maiores e oferecendo apoio e incentivo ao longo do caminho. À medida que a pessoa experimenta sucessos e conquistas, sua confiança em suas próprias habilidades aumentará.
Criar um ambiente seguro e oferecer apoio: a pessoa idosa precisa de um ambiente seguro para errar e se desenvolver, um exemplo é de que se a pessoa faz muita sujeira e demora demais para comer, que ela fique em um espaço estratégico para que isso aconteça de forma segura e com suporte do cuidador, por exemplo. O objetivo é que ela possa desenvolver a ação sozinha, mas com a segurança de que há alguém por perto, caso ela precise de ajuda.
Celebrar as suas conquistas: é importante reconhecer e celebrar os avanços, mostrar para a pessoa idosa os benefícios de estar se desenvolvendo, a fim de garantir que ela se sinta acolhida e de que os seus esforços dão resultados.
Encorajar a tomar decisões: é muito comum que o cuidador queira decidir pela pessoa idosa, por exemplo, a roupa que ela irá usar, sendo esse um processo mais ágil na rotina de cuidados, mas é importante que a pessoa idosa seja estimulada a tomar essas decisões para desenvolver a sua inteligência conceitual.

Lembre-se sempre que você deve tratar a pessoa idosa como espera ser tratado no seu futuro, pois cuidar de uma pessoa idosa é projetar e aprender sobre o cuidado que queremos ter.
Aqui no Terça da Serra, nós temos o Instituto Educacional do Terça da Serra que oferece cursos e treinamentos especializados para os nossos cuidadores, a fim de atender com excelência o seu familiar idoso para que ele tenha dignidade e independência. Venha conhecer uma das nossas unidades!

 

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