O processo de luto familiar de um idoso com Alzheimer

Quando nós nos deparamos com a notícia de uma pessoa idosa com Alzheimer na família, isso muda todo o nosso percurso, toda a nossa rotina, mas muda principalmente a forma como olhamos para aquela pessoa idosa. Isso porque nós sabemos que dali para a frente, ela passará por um novo momento de vida, onde muitas vezes começará a ter lapsos de memória, poderá ter algumas mudanças de comportamento e tudo isso pode ser assustador.

 

Meu familiar foi diagnosticado com Alzheimer, e agora?

Imagine que se não é fácil para você receber essa notícia, para a pessoa idosa também não é! Em um filme brilhante lançado pela Netflix, a obra “Viver Duas Vezes” mostra um renomado professor de matemática que está passando por isso, inicialmente a filha se recusa em acreditar que o idoso esteja tendo lapsos de memória, custa a querer aceitar que ele já não é mais tão capaz de realizar contas básicas como era anteriormente, o que afeta a relação deles.

O primeiro passo é buscar o acolhimento do sentimento vivenciado: medo, angústia, tristeza, frustração, desilusão ou qualquer outro sentimento que venha surgir, pois é necessário lidar primeiro com a forma com que se recebe a notícia, para ser possível depois disso, elaborar uma conversa com a pessoa idosa, delimitar novos cuidados, realizar todos os tratamentos e os acompanhamentos médicos que se fazem necessários.

A comunicação com a pessoa idosa deve ser clara, sem um caráter culpabilizatório (“isso é culpa sua, você nunca se alimentou bem, nunca fez exercício) e nem vitimizatório (“tadinho de você, que pena, tenho dó de você”), devemos compreender que essa é uma fase deliciada da vida que deve ser enfrentada com o apoio e o auxílio da família, a fim de garantir que o idoso se sinta acolhido, respeitado e amparado durante esse processo.

 

Como explicar para as crianças pequenas?

Nós temos um costume muito grande de subestimar o quão inteligente as crianças podem ser! Por isso, as vezes inventamos desculpas mirabolantes, até mesmo fantasiosas, para coisas que são muito simples. O melhor caminho é explicar que aquele familiar já está em uma idade que aprendeu tantas coisas, que já não consegue se lembrar de tudo, mas que isso não é nada demais, oferecer o maior esclarecimento possível, de forma mais breve e sucinta possível.

A convivência com a criança poderá acarretar a estimulação cognitiva da pessoa idosa, principalmente se a pessoa for incentivada a jogar jogos com a criança como quebra-cabeças, jogo da memória, entre outras atividades que podem ser prazerosas para ambos e ainda garantir que a pessoa idosa mantenha a mente ativa.

Nos casos mais avançados da doença, em que a pessoa idosa passa a usar fralda, já é recomendado explicar sobre o processo do corpo envelhecendo, evitar usar a expressão de que a pessoa idosa volta a ser criança, mas explicar que tudo na vida tem um fim, pois é muito mais importante para a criança entender isso ao longo do processo de envelhecimento do familiar idoso, do que após uma simples partida sem qualquer tipo de esclarecimento. As crianças possuem um nível de consciência muito maior do que os pais acreditam que elas tenham.

Um passo a passo para lidar com o luto

Reconhecimento do diagnóstico:

Aceitar e compreender o diagnóstico de Alzheimer é o primeiro passo. A família deve educar-se sobre a doença e suas fases para entender o que esperar. Compreender quais são as atitudes mais adequadas para se ter em determinadas situações de agressão e agitação, conhecer alimentos que podem ser evitados, entre outras questões, o mais importante é que a família busque com profissionais da área tirar todas as dúvidas e obter o máximo de informação sobre o processo da doença.

Comunicação eficaz:

Manter linhas abertas de comunicação com o idoso é importante! Mesmo que a memória esteja prejudicada, o afeto e a conexão emocional podem ser preservados, principalmente quando a pessoa idosa ainda mora sozinha, avaliar a melhor forma para oferecer os cuidados necessários (em casa ou em uma estrutura residencial), garantir que a pessoa idosa permaneça tendo voz ativa sobre as situações que lhe dizem respeito.

Apoio psicológico:

Tanto a pessoa idosa como os seus familiares podem se beneficiar de apoio psicológico, como terapia individual ou em grupo. Isso pode ajudar a lidar com a dor da perda gradual da personalidade da pessoa, com o processo de luto da imagem criada diante da pessoa idosa e com a sobrecarga do cuidado e da ansiedade filial (tem uma matéria aqui que explica o que é a ansiedade filial).

Planejamento de cuidados:

Elaborar um plano de cuidados que leve em consideração as necessidades físicas e emocionais do idoso é crucial, esse plano deve incluir principalmente um enfermeiro, cuidadores profissionais e quando possível, um profissional de terapia ocupacional para proporcionar atividades apropriadas.

Respeito à dignidade:

É importante manter o respeito à dignidade do idoso em todas as fases da doença. Isso inclui permitir que a pessoa faça escolhas dentro do que é seguro e apoiar sua autonomia, sendo incluída nas decisões da família, nas decisões da sua própria vida e dentro do início da doença, realizar já as anotações sobre as formas como prefere ser cuidada.

Rede de apoio:

A família deve buscar apoio de amigos, grupos de apoio e organizações que lidam com o Alzheimer, caso seja possível, pois garantem uma troca de vivência importante e que podem ser semelhantes, uma rede de apoio muito importante também é a de instituições religiosas, caso a pessoa idosa tenha afinidade com alguma vertente.

Aceitação das mudanças:

À medida que a pessoa idosa perde a capacidade de reconhecer familiares, a família precisa se adaptar a essas mudanças e aceitar que a pessoa que conheciam está mudando, além de algumas mudanças também serem feitas na casa para adaptação e maior conforto, adaptações na forma de locomoção, entre outras.

Autocuidado:

Os membros da família devem cuidar de sua própria saúde física e emocional, assim como ter cuidado com a saúde mental dos cuidadores profissionais, para evitar a estafa por estresse, de forma que é importante buscar não apenas o apoio psicológico, mas também momentos de lazer capazes de distrair e relaxar a mente.

Documentação e memórias:

Manter um registro de memórias e experiências compartilhadas com o idoso pode ser reconfortante para a família, os psicólogos costumam trabalhar com a terapia da reminiscência nesse aspecto, a fim de resgatar e criar memórias com álbuns de fotos e diário, mas isso também pode ser feito pelos próprios familiares, porém sempre com atenção e acompanhamento especializado, pois pode gerar angústia e agitação.

Paciência e compaixão:

A progressão do Alzheimer pode ser frustrante e emocionalmente desgastante, mas é essencial mostrar paciência e compaixão à pessoa idosa, mesmo quando as tarefas diárias se tornarem desafiadoras.

 

Aqui no Terça da Serra nós temos uma equipe especializada para amparar o seu familiar idoso com todos os cuidados, além de oferecer maior conforto e tranquilidade para você e para a sua família. Venha conhecer uma das nossas unidades!

 

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