O que são as Diretivas antecipadas de vontade?

É difícil para a maioria das pessoas falar sobre momentos delicados da vida, principalmente, pois evitamos ao máximo pensar que um dia poderemos não ser mais capazes de expressar as nossas vontades, porém é importante pensar que embora ninguém deseje que isso aconteça, o pior que pode nos acontecer é não ter respaldo para garantir os nossos desejos e as nossas vontades, para isso serve as diretivas antecipadas de vontade.

As Diretivas Antecipadas de Vontade, também conhecidas como Testamento Vital ou Declaração de Vontade Antecipada, são documentos legais que permitem que uma pessoa expresse seus desejos e preferências em relação a tratamentos médicos futuros, especialmente em situações em que ela não seja capaz de comunicar suas decisões devido a incapacidade mental ou física.

Esse testamento é uma forma de nos resguardar sobre os nossos desejos, a fim de termos certeza da forma como seremos tratados, mesmo que já não sejamos capazes de expressar essas vontades, mais importante ainda é dar confiança e segurança para os nossos familiares saberem como agir de acordo com aquilo que nós determinamos, evitando causar qualquer desconforto.

É importante destacar que esse documento deve ser feito com a consulta jurídica de um advogado, a fim de ser realizado de forma correta.

Por que eu deveria fazer um testamento vital?

Ninguém é obrigado a fazer um testamento vital, assim como um testamento de patrimônio, muitas pessoas confiam o suficiente em seus familiares, de forma que tem a certeza de que as melhores escolhas serão feitas para si, caso algo aconteça, mas muitas pessoas possuem uma visão muito clara do que não querem viver, tratamentos que não desejam realizar e decisões importantes que desejam tomar que podem não ir de acordo com os desejos dos familiares.

Com avanço da tecnologia, cada vez surgem novos métodos de prolongar a vida, porém nem sempre esses métodos garantem qualidade de vida, ou seja, promovem uma vida com diversas limitações, tratamentos invasivos e por vezes, dolorosos. Há pessoas que enxergam o processo de uma doença grave como o fim de sua vida, sem interesse em lutar por um prolongamento, seja por questões espirituais ou por receio de um sofrimento prolongado, em todos os casos, o que importa nessas ocasiões é que a vontade da pessoa possa prevalecer acima de qualquer coisa.

O testamento vital também é capaz de respaldar a pessoa da divergência de opinião dos seus familiares, pois por vezes ela pode não ter interesse em fazer um tratamento invasivo, mas os seus familiares enxergarem essa negativa como um receio que não deve ser levado em consideração, pois o anseio pelo prolongamento de sua vida deve prevalecer acima de tudo, mesmo contra a vontade da pessoa, pois considera-se que a pessoa “não pode desistir”. As diretivas garantem que a pessoa tenha direito a deixar claro como os médicos devem proceder no seu tratamento, de forma que os familiares não têm autorização para intervir.]

 

O que é considerado nas diretivas antecipadas de vontade?

Existem algumas situações que serão a base para este documento, a fim de deixar expressada as vontades e os desejos da pessoa, como por exemplo:

Doença terminal: Quando uma pessoa é diagnosticada com uma doença terminal e está em estágios avançados, as diretivas antecipadas podem ser usadas para expressar suas preferências sobre medidas de suporte à vida, como a utilização de ventiladores ou ressuscitação cardiopulmonar (RCP), ou sobre cuidados paliativos, como a administração de analgésicos.

Estado vegetativo: Se alguém se encontra em um estado vegetativo persistente, as diretivas antecipadas podem especificar se desejam ou não continuar recebendo tratamento médico que prolongue sua vida nesse estado.

Incapacidade cognitiva: Se uma pessoa desenvolve uma doença cognitiva, como a doença de Alzheimer, que a torna incapaz de tomar decisões de cuidados de saúde, as diretivas antecipadas podem fornecer orientação sobre o tipo de tratamento e cuidados que desejam receber.

Lesão grave: Em caso de acidente ou lesão grave que leve a uma incapacidade temporária ou permanente, as diretivas antecipadas podem guiar as decisões de cuidados médicos e o uso de medidas de suporte à vida.

Cirurgia de risco: Quando uma pessoa enfrenta uma cirurgia de alto risco, pode usar diretivas antecipadas para expressar suas preferências em relação a procedimentos específicos, como cirurgia cardíaca, cirurgia neurológica etc.

Recusa de tratamento: As diretivas antecipadas também permitem que alguém recuse tratamentos médicos específicos que sejam contra suas crenças pessoais, éticas ou religiosas. Isso pode incluir a recusa de transfusões de sangue, tratamentos de quimioterapia, ou outros procedimentos invasivos.

É importante destacar que as diretivas antecipadas são uma maneira de garantir que os desejos da pessoa sejam respeitados, desde que estejam de acordo com as leis locais e regulamentos. Elas aliviam a carga de tomar decisões difíceis de cuidados médicos de familiares e profissionais de saúde, ao mesmo tempo em que garantem que a pessoa tenha voz em sua própria assistência médica, mesmo quando não puder expressar suas escolhas diretamente.

 

Como realizar as diretivas antecipadas de vontade?

Esse é um documento preenchido através de um formulário, é recomendado ser realizado com o auxílio de um advogado, mas aqui vai um passo a passo para poder realizá-lo:

Informe-se sobre as leis locais: Antes de começar, é importante entender as leis estaduais ou nacionais que regulam as diretivas antecipadas de vontade em sua região. Isso pode afetar os requisitos específicos e o formato dos documentos.

Determine suas preferências de saúde: Pense cuidadosamente sobre quais tratamentos médicos você gostaria ou não gostaria de receber em situações específicas, como em caso de coma irreversível, falência múltipla de órgãos, demência, entre outras. Considere questões como reanimação cardiopulmonar (RCP), suporte de vida artificial, nutrição artificial e hidratação, entre outros.

Escolha um representante de saúde: Você pode nomear uma pessoa para ser seu representante de saúde, alguém que tomará decisões médicas em seu nome se você não puder fazê-lo. Certifique-se de escolher alguém de confiança, que conheça suas preferências de saúde.

Encontre os formulários apropriados: Verifique se o seu estado fornece formulários padrão de diretivas antecipadas de vontade. Eles podem estar disponíveis online, nos sites do governo, em hospitais ou com organizações de saúde. Se não encontrar um formulário padrão, um advogado pode ajudá-lo a criar um documento personalizado.

Preencha o formulário: Preencha o formulário de acordo com suas preferências e instruções. Certifique-se de ser claro e específico nas suas diretrizes.

Assine e testemunhe o documento: Muitos estados exigem que as diretivas antecipadas de vontade sejam assinadas na presença de testemunhas. As testemunhas geralmente não devem ser parentes ou pessoas diretamente envolvidas nos cuidados de saúde do paciente. Certifique-se de seguir as regras de assinatura do seu estado ou país.

Distribua cópias: Forneça cópias do documento aos seus representantes de saúde, médico, familiares e outras pessoas relevantes. Certifique-se de que as pessoas envolvidas conheçam suas diretivas e onde encontrar a documentação quando necessário.

Atualize conforme necessário: Revise suas diretivas antecipadas de vontade regularmente e faça alterações conforme suas preferências de saúde evoluírem.

É importante lembrar que, em alguns casos, pode ser útil consultar um advogado ou profissional de saúde para obter orientação personalizada e garantir que seus documentos estejam em conformidade com as leis. Além disso, informe seu médico sobre suas diretivas antecipadas de vontade para que ele possa registrá-las em seu prontuário médico e discutir suas escolhas com você.

 

Quando é a hora de fazer este documento?

Não existem um tempo pré-determinado para isso, mas geralmente a partir da entrada na meia idade pode ser que faça sentido, mas o tempo e o momento para ser realizado vai depender do processo de consciência da sua importância, avaliação da sua necessidade ou não, da preparação para tratar o assunto com os seus familiares e da forma de conduzir de forma consciente as determinações deste documento.

Esse documento não precisa ser realizado perto de uma decisão importante, apesar de ser uma opção, ele pode fazer parte de um momento de vida sem a presença de uma doença grave, caso o assunto seja confortável para a pessoa abordar e refletir sobre, além disso, ele também pode sofrer alterações ao longo do tempo, caso a pessoa tenha novas concepções sobre os seus desejos.

Em todos os casos, é essencial entender que a criação das Diretivas Antecipadas de Vontade é uma ação preventiva e proativa. Ter esse documento em vigor pode proporcionar tranquilidade a você e aos seus familiares, assegurando que seus desejos sejam respeitados em situações de saúde complexas. Além disso, é uma ótima forma de desmistificar o envelhecimento e o processo de finitude da vida, onde é possível criar rituais específicos com as pessoas do seu entorno.

Existem pessoas que deixam expressado em suas diretivas antecipadas de vontade determinadas ações que só os seus familiares entendem, por exemplo: caso tenha uma doença degenerativa, realizar determinada ação (pintar o cabelo de outra cor, realizar uma viagem com autorização médica etc.) que tornam aquele momento mais significativo e fortalecendo a conexão entre eles, tornando esse um momento menos doloroso.

Neste ato de planejamento antecipado, encontramos uma maneira de proporcionar conforto e segurança a nós mesmos e àqueles que mais amamos. Portanto, consideremos este ato de amor-próprio e de cuidado com os outros, criando nossas Diretivas Antecipadas de Vontade como um presente valioso que transcende o tempo e a incerteza, garantindo que nossa voz seja ouvida, mesmo quando o silêncio se instala.

 

Esse documento também é capaz de diminuir a ansiedade filial, confira aqui a matéria que explica o que é esse fenômeno. No blog do Terça da Serra temos muitas outras matérias sobre diversos assuntos sobre o processo de envelhecimento, confira já!

Compartilhe este artigo