Os desafios dos familiares que têm dificuldade em dizer não para a pessoa idosa

Durante toda a nossa vida, nós temos bem estabelecidas algumas relações familiares, geralmente de pai para filho, onde a base da educação é saber a hora certa de dizer “não” para as crianças, mesmo que muitas vezes isso custe imensamente o nosso coração.

A dificuldade pode vir a ser quando somos obrigados a assumir, no papel de filho, a responsabilidade de dizer “não” para os nossos pais, o que nos causa uma certa confusão e até mesmo um receio de ter que delimitar o que é as pessoas mais velhas que nós, as pessoas responsáveis pela nossa criação devem ou não fazer. Hoje falaremos um pouco sobre esses desafios e de que forma podemos lidar melhor com eles.

 

Os principais desafios enfrentados

Lidar com uma pessoa que não aceita ouvir não é um grande desafio para os familiares, pois familiares que não conseguem estabelecer limites acabam assumindo uma carga excessiva de responsabilidades, tanto emocionais quanto práticas, relacionadas ao cuidado do idoso. Isso pode resultar em exaustão emocional e física, levando a problemas de saúde, estresse crônico e até mesmo burnout, além disso, os principais desafios são:

O resentimento: O constante atendimento às demandas do idoso sem a capacidade de dizer não pode levar ao desenvolvimento de sentimentos de ressentimento por parte dos familiares. Eles podem se sentir explorados ou sobrecarregados, especialmente se perceberem que o idoso não valoriza ou reconhece seus esforços.

A perpetuação de comportamentos não saudáveis: A falta de capacidade de dizer não pode resultar na tolerância ou até mesmo na promoção de comportamentos não saudáveis por parte do idoso, como alimentação inadequada, falta de exercício físico ou negligência dos cuidados médicos. Isso pode piorar a saúde do idoso a longo prazo.

O prejuízo à autonomia do idoso: Ao fazer tudo pelo idoso, os familiares podem inadvertidamente minar sua autonomia e independência. Isso pode levar a uma diminuição da autoestima e da sensação de dignidade do idoso, pois eles se tornam dependentes das decisões e ações dos outros.

Os impacto financeiro: Atender a todas as demandas do idoso pode acarretar em despesas significativas para a família, especialmente se envolver cuidados médicos ou serviços de cuidadores profissionais. Isso pode causar estresse financeiro e dificuldades em manter a estabilidade financeira da família.

A falha na construção de limites saudáveis: A incapacidade de estabelecer limites pode resultar em uma dinâmica familiar desequilibrada, onde as necessidades e desejos do idoso são colocados acima de tudo, muitas vezes em detrimento do bem-estar dos próprios familiares. Isso pode levar a conflitos familiares e ressentimentos não resolvidos.

 

O medo de desagradar ou de ser injusto

Existem muitos familiares que relatam um certo receio de desagradar a pessoa idosa, principalmente a pessoa que possui um grau de demência, de forma que evitam negar certos pedidos para não desencadear acessos de raiva, picos de agitação e criar uma situação desagradável, há outros familiares que relatam um receio de estarem sendo injustos, já que aquela pessoa se dedicou tanto ao longo da vida para ter as próprias coisas, não devendo ser negado os seus pedidos e desejos.

Em momento algum queremos aqui comparar as pessoas idosas com as crianças, pois são etapas da vida completamente diferentes, com modos de lidar completamente diferentes, mas que tem por base em comum o cuidado, negar certos desejos nada mais é do que se preocupar com o cuidado que devemos ter, quando a pessoa não está, naquele momento, medindo os riscos ou prejuízos de uma determinada situação.

O que não é aconselhado fazer é usar de um tom de voz mais altivo ou de força bruta para conseguir estabelecer os limites necessários, pois isso sim, é um fator altamente potencial de desencadear um acesso de fúria e um pico de agitação.

Para as pessoas com demência que desejam muito algo que não pode ser oferecido, devemos buscar meios de desviar a sua atenção para algo que possa ser mais adequado, por exemplo:

“Sim, Dona Maria, eu sei que a senhora está com fome e quer almoçar já, mas eu ainda estou preparando o seu almoço, enquanto isso, consegue me ajudar a descascar essa cenoura para que o seu almoço fique pronto mais rápido?”

A ideia é evitar o confronto da negativa pela explicação plausível, pois a explicação de que ela precisa esperar, de que ainda não é hora do almoço, tudo isso em um momento de queixa da pessoa idosa pode demonstrar que a pessoa não compreende o que ela quer, por isso muitas vezes pode causar os picos de agitação, pois a pessoa idosa fica angustiada para apresentar a sua queixa ou o seu pedido, com objetivo de ser entendida o mais claramente possível.

Como dizer “não” para a pessoa idosa?

Dizer não para um idoso pode ser desafiador, especialmente quando há preocupações sobre como isso pode afetar o relacionamento ou a autoestima do idoso, abordaremos algumas formas de pensar em lidar com essa situação.

 

Aborde as preocupações de saúde e segurança: Explique que a decisão de dizer não é motivada pelo desejo de garantir a segurança e o bem-estar do idoso. Por exemplo, se o idoso quiser realizar uma atividade que represente um risco para a saúde, como dirigir em condições perigosas, você pode explicar os motivos pelos quais é importante evitar essa atividade.

Ofereça alternativas e soluções: Em vez de simplesmente dizer não, ofereça alternativas viáveis. Por exemplo, se o idoso pedir para fazer uma atividade física que pode ser muito desafiadora, sugira uma atividade mais adequada às suas capacidades, como uma caminhada leve ou exercícios de alongamento.

Utilize uma comunicação empática: Demonstre empatia e compreensão ao comunicar o “não”. Reconheça os sentimentos do idoso e valide suas preocupações. Por exemplo, se o idoso pedir para realizar uma tarefa que está além de suas capacidades, você pode expressar compreensão pelo desejo de ajudar e explicar gentilmente por que não é possível realizar essa tarefa no momento.

Seja claro e firme, mas gentil: Comunique-se de forma clara e assertiva, mas mantenha uma abordagem gentil e respeitosa. Evite ambiguidades ou mensagens mistas que possam causar confusão. Por exemplo, em vez de dizer talvez ou veremos, seja direto e explique sua decisão de forma objetiva.

Envolver o idoso na tomada de decisão: Quando apropriado, envolva o idoso na tomada de decisão. Isso pode ajudá-lo a se sentir mais valorizado e capacitado. Por exemplo, se o idoso pedir para participar de uma atividade que não é possível no momento, você pode discutir juntos outras opções e decidir em conjunto qual seria a melhor escolha.

Estabeleça limites com antecedência: Quando possível, estabeleça limites com antecedência e explique as expectativas de forma clara e direta. Isso pode ajudar a evitar mal-entendidos e conflitos no futuro. Por exemplo, se você sabe que o idoso tem dificuldade em entender os limites de gastos financeiros, defina um orçamento claro e discuta-o previamente.

Enfatize o amor e o cuidado: Reafirme seu amor e cuidado pelo idoso ao comunicar o “não”. Explique que suas ações são motivadas pelo desejo de proteger e cuidar dele da melhor forma possível. Por exemplo, você pode dizer que está dizendo não porque se preocupa com a saúde e o bem-estar dele.

Essas estratégias podem ajudar a comunicar um “não” de maneira eficaz e respeitosa, mantendo ao tempo a dignidade e o respeito pelo idoso, tudo isso depende da forma da abordagem, da escolha de um momento calmo e do uso de um tom de voz brando e paciente.

 

A ajuda de profissionais especializados

Os profissionais especializados na área de psicologia são um apoio importante para os familiares que possuem tal dificuldade, tanto para trabalhar com o idoso os limites necessários para uma convivência saudável, quanto para os familiares aprenderem a impor os limites necessários.

Não devemos negligenciar a sobrecarga que é o cuidado de uma pessoa idosa, tanto física quanto psicológica, sendo importante ponderar a hora de procurar um suporte especializado para lidar com todas essas demandas. Além disso, é importante ponderar as causas que podem estar gerando o descontentamento da pessoa idosa: muito tempo em casa sem atividades, muito tempo sozinho. Esses fatores também podem causar maior insatisfação da pessoa idosa de uma forma ampla, e pela falta de conhecimento para expressar esse sentimento, ela se tornar mais resistente às situações do cotidiano em geral.

Uma pessoa idosa deve ser cuidada não apenas pelo aspecto da saúde com um profissional de geriatria, mas também realizar um acompanhamento gerontológico para garantir um cuidado integral de saúde, com um plano que leve em conta as atividades que gosta de realizar, eventos que pode participar, melhores formas de se relacionar com a família, vizinhos e amigos, entre muitos outros aspectos.

 

No Blog do Terça da Serra a nossa maior preocupação é garantir que o cuidado com o idoso seja desmistificado, para que todas as pessoas que possuem algum familiar em casa possam ter as suas dúvidas esclarecidas. Navegue no nosso blog e encontre outras matérias atualizadas e importantes para compreender o envelhecimento de forma mais ampla e para muito além do que você já sabe.

 

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