Por que o amor na terceira idade ainda é um tabu?

Um assunto que pode assustar muito por ser ainda, infelizmente, um grande tabu para várias pessoas. Há uma crença muito errônea de que “pessoas mais velhas não tem mais vida sexual”.

Vamos começar essa matéria partindo de dentro para fora, pois a intenção aqui é causar uma reflexão pessoal inicialmente: imagine-se daqui 30 anos, imagine que você ainda está em um relacionamento com uma pessoa ou que sente o desejo de encontrar alguém, mas todos ao seu entorno insistem em dizer que “isso não é mais para a sua idade”, como você se sentiria?

 

“A pipa do vovô não sobe mais” e suas fake News

Não devemos negar que conforme a nossa vida avança, diversos problemas de saúde aparecem. Mas isso não é inteiramente verdade quando nos referimos a sexualidade! Nós sabemos que os principais desafios na área são: disfunção erétil, perda da libido, mudanças hormonais, medos e inseguranças com o próprio corpo, entre muitos outros. Todos esses problemas atualmente podem ser amplamente tratados, visto que a indústria farmacológica vem avançando em diversos estudos nessa área.

Mas apesar disso, boa parte dessas situações desagradáveis são causadas por fatores emocionais, muito mais do que biológicos. Isso por que nas gerações anteriores a sexualidade era tratada com muito mais censura, de forma que muitas mulheres não tinham sequer conhecimento sobre o próprio corpo e seus desejos, de forma que encaravam a vida sexual apenas com a função reprodutiva e a velhice vinha como um “alívio” dessa obrigação social.

A relação da sexualidade na velhice: uma trajetória histórica

Devemos fazer uma rápida viagem no tempo para compreender como foi que o sexo deixou de ser um tabu, para assim compreender a importância hoje de falar sobre o assunto, principalmente na velhice:

1900-1910: A sociedade vitoriana exerce forte controle sobre a expressão da sexualidade, com a moralidade e a repressão sexual sendo enfatizadas. A sexualidade dos idosos é frequentemente invisibilizada e desvalorizada, considerada inapropriada ou inexistente.

1920-1930: O movimento feminista ganha força, reivindicando direitos sexuais e reprodutivos para as mulheres. A década de 1920 é marcada por uma maior liberação sexual, especialmente nos Estados Unidos, com os chamados “anos loucos” e o surgimento da cultura do flapper.

1940-1950: Durante a Segunda Guerra Mundial, as restrições morais são flexibilizadas devido à necessidade de satisfação sexual e intimidade entre os soldados. A sexualidade dos idosos continua sendo um tabu e é raramente discutida publicamente.

1960-1970: A revolução sexual ganha destaque com o movimento hippie e o surgimento da pílula anticoncepcional. O estereótipo de que os idosos não são sexualmente ativos começa a ser questionado, embora ainda haja resistência social e cultural.

1980-1990: A epidemia de HIV/AIDS traz à tona questões relacionadas à sexualidade, promovendo a educação sexual e o uso de medidas preventivas. A sexualidade dos idosos começa a ser mais reconhecida e valorizada, com o entendimento de que o desejo e a intimidade não desaparecem com a idade.

2000-2010: O acesso à informação sobre sexualidade é ampliado com o crescimento da internet e das redes sociais. A discussão sobre a sexualidade dos idosos se torna mais aberta, com pesquisas e campanhas que visam quebrar estigmas e promover a saúde sexual na terceira idade.

2011-2023: A sexualidade dos idosos continua sendo um tema relevante, com uma maior conscientização sobre a importância do bem-estar sexual ao longo da vida e a necessidade de serviços de saúde sexual voltados para essa faixa etária.

 

A influência da espiritualidade nas relações sexuais durante a velhice

Em diversas culturas, existem expectativas e estereótipos associados à sexualidade na velhice. Muitas vezes, a sociedade tende a invisibilizar e desvalorizar a sexualidade dos idosos, considerando-a inapropriada ou até mesmo inexistente. Essas percepções negativas podem levar a estigmas, repressão e falta de discussão sobre o tema.

As religiões mais conservadoras compreendem que a sexualidade tem um fim reprodutivo, de forma que durante o processo mais avançado da vida, essa função se perde e se torna apenas uma consumação de um desejo que é considerado “pecado” pela igreja.

Por esse motivo, as crenças religiosas têm um papel significativo na forma como a sexualidade na velhice é percebida. Os ensinamentos religiosos, interpretações dos textos sagrados e restrições impostas por algumas religiões podem moldar atitudes e comportamentos em relação à sexualidade dos idosos. Algumas religiões podem enfatizar a abstinência sexual após certa idade, enquanto outras podem oferecer orientações e diretrizes específicas para a vivência da sexualidade na terceira idade.

 

A importância do autocuidado para uma vida sexual ativa na velhice

O autocuidado desempenha um papel fundamental na vida sexual das pessoas idosas. À medida que envelhecemos, é essencial adotar uma abordagem proativa para manter uma vida sexual satisfatória e saudável.

O autocuidado envolve cuidar do corpo, mente e emocionalidade, garantindo que as necessidades sexuais sejam atendidas. Isso pode incluir a busca de informações sobre mudanças físicas relacionadas à idade, o fortalecimento do vínculo afetivo com o parceiro, a manutenção de uma comunicação aberta sobre desejos e preocupações, e a procura de apoio médico e terapêutico, se necessário, com a realização dos exames de rotina capazes de monitorar a saúde da pessoa idosa e garantir o seu bem-estar.

Priorizar o autocuidado na vida sexual dos idosos é uma forma de promover o bem-estar, a autoestima e a intimidade, permitindo uma experiência sexual gratificante e enriquecedora ao longo do processo de envelhecimento.

 

Como conversar com a pessoa idosa sobre sexualidade?

Tenha um canal de comunicação aberto e honesto: Uma comunicação honesta, respeitando os limites que a pessoa idosa impõe, mas que cause reflexão. Não permita que os preconceitos tirem as vantagens de se ter uma conversa intergeracional com a pessoa idosa, mas caso não seja possível tocar no assunto, garanta ao máximo que a pessoa seja acolhida e tenha a sua privacidade preservada.

Não faça julgamentos ou comentários que possam inibir a pessoa idosa de se expressar. Se você não possui um canal aberto de comunicação, procure alguém que possa ter esse canal e possa mediar essa relação para que seja mais fácil a comunicação sem ser invasiva.

Trate o outro como você quer ser tratado no futuro, lembre-se que cuidar das pessoas idosas hoje é mostrar aos mais jovens a forma como cuidar de você amanhã!

 

No Terça da Serra nós temos a preocupação de proporcionar a individualidade de cada idoso, além de garantir que todos possam construir o seu bem-estar dentro dos nossos residenciais, venha conhecer uma das nossas unidades!

 

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