Violência contra idosos: como identificar, o que é, e como proceder?

Esse é um tema essencial para ser apresentado aqui em nosso blog. Isso porque é um tema de extrema relevância social para que possamos proteger as pessoas idosas. Cada vez mais devemos ter em consideração que saber identificar e proceder diante de uma situação de violência é fundamental.

O mês de junho é considerado o mês do combate à violência contra a pessoa idosa. É o conhecido “junho violeta“. E nós devemos compreender mais a fundo como é que essa violência ocorre.

Segundo a Agência Brasil temos os seguintes dados sobre violência contra a pessoa idosa:

“Nos primeiros cinco meses de 2023, o Disque 100, do Ministério dos Direitos Humanos e Cidadania (MDHC), recebeu mais de 47 mil denúncias de violência cometida contra pessoas idosas, que apontam para cerca de 282 mil violações de direitos como violência física, psicológica, negligência e exploração financeira ou material. Cada denúncia pode ter mais de um tipo de violação de direitos.” Confirma a matéria completa aqui.

Afinal, o que é considerado violência contra a pessoa idosa?

A violência, segundo a Organização Mundial da Saúde em 2002 é definida como o “uso intencional da força ou poder em uma forma de ameaça ou efetivamente, contra si mesmo, outra pessoa ou grupo ou comunidade, que ocasiona ou tem grandes probabilidades de ocasionar lesão, morte, dano psíquico, alterações do desenvolvimento ou privações”. Ou seja, a violência é todo e qualquer ato contra a vontade do idoso que pode causar algum dano em qualquer aspecto, não apenas físico. E isso é muito importante de salientar!

 

Vamos elucidar de forma clara e com alguns exemplos as violências mais comuns cometidas com pessoas idosas:

 

Violência física: a violência física é o ato de tocar a pessoa sem o seu consentimento e causar algum dano, seja ele intencional ou não.

Exemplo: na pressa de colocar a pessoa idosa dentro do banheiro para tomar banho, segurar com muita força, algumas vezes até arrastar a pessoa contra a sua vontade.
Alerta: devemos lembrar sempre que a pele da pessoa idosa é muito sensível, com camadas de epiderme muito fina, de forma que qualquer toque brusco ou desajeito pode causar lesões sérias.

 

Violência psicológica: uma violência capaz de ser disfarçada ou até mesmo negada por muitos profissionais que praticam, falas de baixo calão, humilhação, desmerecimento da pessoa idosa.

Exemplo: dizer que a pessoa idosa não ajuda em nada a se levantar, dizer que parece um peso morto, reafirmar que a pessoa não tem qualquer utilidade.
Alerta: a pessoa idosa nem sempre irá afirmar que sofre deste tipo de violência, visto que muitas vezes é intimidada pelo profissional para que não o faça, de forma que é necessário compreender as formas de identificar essa violência, conforme falaremos a seguir.

 

Violência patrimonial: a violência contra o patrimônio da pessoa idosa, muitas vezes cometidos por familiares ao pegar empréstimo no nome dela para benefício próprio. Obter a curatela para ficar com a possa dos bens materiais da pessoa idosa, mas também por parte dos profissionais é a sedução para realizar o abuso financeiro.
Exemplo: profissionais que oferecem ajuda em troca financeira e pedem segredo, pessoas que se queixam de situações pessoais para conseguir ajudar financeira.
Alerta: essa é uma das violências mais difíceis de ser identificada e revertida, visto que a sedução é um dos fatores que faz com que a pessoa idosa não enxergue a ação como uma violência.

 

Negligência: a forma mais comum e mais recorrente de reproduzir a violência, muitas vezes justificada pela falta de tempo para realizar um cuidado, excesso de trabalho, entre outros motivos semelhantes.
Exemplo: não realizar a limpeza correta das partes íntimas, pois não havia mais tempo para terminar o trabalho. Não oferecer suporte para que a pessoa idosa tenha a própria autonomia, como comer sozinha, pois tem hora certa para terminar a refeição e precisa ser rápido.
Alerta: essa é a violência que os profissionais de saúde mais negam realizar! É onde tentam burlar as normas e comprovar que realizam as ações necessárias.

 

Como identificar cada uma dessas violências?

Precisamos estar muito atentos aos sinais apresentados pela pessoa idosa! Mas o mais importante é validar a fala, as queixas e as acusações dela. Principalmente aquelas que já estão em um quadro demencial! Pois há um costume baseado em um senso comum de que as pessoas com demência “não falam coisa com coisa”, mas isso não é uma verdade.

É claro que uma pessoa com algum comprometimento cognitivo não vai ter facilidade para expressar certas situações, é possível que ela se confunda ao querer expressar uma frase. Mas a agitação e principalmente a irritabilidade nunca são em vão! Não devemos encarar isso como um “surto”, já que atualmente sabemos que as situações de saúde mental não são mais vistas como uma simples histeria, pois todas tem fundamento e veracidade.

 

Para identificar a violência física:
Para muito além dos sinais do corpo que são visíveis e claros, devemos ter atenção com o nível de irritabilidade da pessoa idosa para executar determinadas funções. Por exemplo, uma pessoa idosa que apresenta muita resistência em tomar banho, demonstra muita agitação, com certeza tem passado por um processo muito frustrante nesse aspecto.
As pessoas idosas com demência apresentam maior irritabilidade com os profissionais e familiares que vão oferecer o cuidado nesses casos, muitas vezes tornam muito mais difícil a realização de uma tarefa como se alimentar, se vestir, tomar banho, realizar a transferência da cadeira para o sofá etc.
Infelizmente também há um costume geral na nossa sociedade em desvalidar a fala dessas pessoas. Em alguns casos, quando a pessoa idosa denuncia a agressão física ela é invalidada e obrigada a permanecer no cenário onde está sendo violentada. Por isso devemos ter muita atenção aos sinais que a pessoa idosa demonstra, seja verbal ou físico.

 

Para identificar a violência psicológica:
A forma mais clara é a apatia. Esse é um sinal mais comum do que a irritabilidade, visto que a maioria das pessoas idosas tendem a se sentir mais desvalorizados do que injustiçados. Quando sofrem uma agressão verbal em que a afirmação é de que são inúteis, a grande maioria internaliza essa afirmação, apesar de muitos outros confrontarem tal afirmação e em muitos casos, ainda sofrerem por serem considerados “mentirosos”.
É possível reparar a mudança de humor, a falta de desejo em interagir com outras pessoas e principalmente um medo muito grande de falar algo perto dos profissionais, devido ao alto índice de ameaças que são realizadas. A pessoa idosa se sente coagida e intimidada a não fazer uma denúncia e as vezes até mesmo uma reclamação. Isso porque a maioria possui o receio de terem sua fala desvalidada e serem “punidos” pelo profissional que foi denunciado.
Essa é a violência com maior incidência em desenvolvimento dos sintomas de depressão em pessoas idosas, pelo seu alto impacto na autoestima (já baixa, muitas vezes) das pessoas mais velhas.

 

Para identificar a violência patrimonial:
Como já mencionado anteriormente, a violência patrimonial é a mais difícil de ser identificada e geralmente deve ter ação direta no profissional do cuidado. Isso porque em muitos casos, diante do acompanhamento da vida financeira da pessoa idosa é possível perceber o desfalque, muitas vezes não apenas corriqueiro, mas com certa frequência. O difícil da situação vivenciada pelo idoso é a falta de reconhecimento desta violência, onde o idoso expressa que é de sua vontade oferecer o dinheiro para as pessoas, seja familiares ou profissionais, desta forma apresenta muita irritabilidade com pessoas que apesar de querer tentar ajudar, são identificadas como invasivas. Geralmente a pessoa idosa usa de justificação de ter posse do seu dinheiro, de sentir empatia pela pessoa que está sendo ajudada, de entender a situação vivenciada pela pessoa, entre muitos outros discursos semelhantes.

 

Para identificar a negligência:
Essa é talvez a forma mais clara de ser identificada. Independente da expressão do idoso, visto que é possível ter atenção aos detalhes do corpo da pessoa idosa. Por exemplo: recorrência em infecção urinária, é possível analisar de quanto em quanto tempo é feita a troca da fralda, assim como analisar como é realizada a higiene íntima, principalmente em pessoas com muito peso, o que dificulta o acesso à região (normalmente com a justificação de que “não há tempo para isso”). Curativos que não são apropriadamente realizados, não possuem uma rotina de cuidado para a sua maior cicatrização. Roupas com aspecto sujo ou com má apresentação.
Todos esses aspectos mostram a falta de cuidado que está sendo realizada com a pessoa idosa. Em alguns casos também em que o idoso passa mais de um dia sem tomar banho, pois se recusa e a equipe não possui estratégias capazes de convencer a pessoa da sua importância. Mas principalmente em instituições residenciais em que as visitas são realizadas com a pessoa sem uma boa apresentação, com os cabelos bagunçados, roupas velhas ou rasgadas.

 

Quais aspectos considerar para combater a violência da pessoa idosa?

 

Para combater a violência física:
Precisamos compreender alguns pontos importantes, onde iremos usar como exemplo as dificuldades da pessoa idosa em tomar banho. Para isso, devemos questionar como são realizados os procedimentos, como por exemplo:
– Qual é o horário que a pessoa idosa toma banho?
– Qual é a primeira parte do corpo a ser tocada pela água?
– Onde é realizado o banho?
– Qual é o procedimento realizado para tirar a roupa da pessoa idosa e quanto tempo ela aguarda até entrar no banho?
– Qual é a temperatura da água: muito quente, muito fria, morna?
Essas ações devem ter o acompanhamento direto do responsável pelo setor de cuidados/enfermagem, a fim de garantir que os procedimentos sejam padronizados com maior foco na qualidade do atendimento e maior humanização do cuidado.

Para combater a violência psicológica:
É necessário compreender a personalidade da pessoa idosa e ser capaz de identificar melhores formas de trabalhar com ela, como por exemplo:
– Exercer o respeito em bater na porta para entrar ao quarto, pedir licença para tocar em seu corpo;
– Estimular a sua capacidade em colaborar para realizar as atividades da vida diária, trocar o “você não me ajuda em nada” por “eu sei que você consegue se levantar, eu confio no seu potencial, eu estou aqui para te ajudar”;
– Reservar algum momento do dia para compreender como a pessoa idosa está, como se sente, abrir espaço para que ela expresse seus sentimentos;
– Estimular a participação em atividades de socialização, realizar contato com os seus familiares, arrumar-se para estar em convívio;
Essas ações podem e devem contar com a ajuda de um profissional de psicologia para potencializar a autoestima da pessoa idosa.

 

Para combater a violência patrimonial
É necessário garantir que o idoso cultive relações saudáveis, sem envolvimento financeiro, a fim de compreender que ele não precisa pagar para ter boas relações.
– Oferecer maior contato com a rede de voluntários e da comunidade;
– Envolver a pessoa idosa em causas sociais, a fim de que caso realmente queira fazer uma doação financeira, seja incentivado a conhecer causas com as quais podem se identificar e realizar tal ação.
– Além disso é importante realizar uma ação de conscientização para que a pessoa idosa possa compreender o que é a violência patrimonial, além de compreender as políticas e a base da ética profissional do cuidado para compreender que certas ações não devem ser executadas.
Essa ação tem grande potencial quando realizada com um profissional de serviço social capaz de fomentar a participação comunitária da pessoa idosa.

 

Como proceder ao identificar a violência contra idosos?

Toda e qualquer violência identificada contra a pessoa idosa deve ser realizada através de denúncia, através de diferentes canais:
– Disque 100: O Disque 100 é um serviço gratuito e nacional, disponível 24 horas por dia, todos os dias da semana. Ele é destinado ao recebimento de denúncias de violações de direitos humanos, incluindo casos de violência contra idosos. As denúncias são recebidas de forma anônima e encaminhadas aos órgãos competentes para investigação e intervenção.
– Delegacia de Polícia: É possível denunciar casos de violência contra pessoa idosa em qualquer delegacia de polícia. As autoridades policiais têm o dever de registrar a denúncia e tomar as medidas necessárias para investigar e proteger a vítima. Se necessário, a vítima pode solicitar a presença de um profissional capacitado para lidar com casos de violência contra idosos, como um policial especializado ou um profissional da área da assistência social.
– Ministério Público: O Ministério Público é uma instituição responsável pela defesa dos interesses da sociedade e pela promoção da justiça. É possível denunciar casos de violência contra idosos ao Ministério Público, que pode iniciar investigações, propor medidas protetivas e, se necessário, entrar com ações judiciais para garantir a segurança e os direitos da pessoa idosa.
– Conselho do idoso: são órgãos responsáveis por receber denúncias, encaminhá-las aos órgãos competentes e acompanhar as medidas tomadas para garantir a proteção dos idosos. Eles podem oferecer apoio emocional, orientação jurídica e encaminhamento para serviços especializados.
– Centros de Referência Especializados de Assistência Social (CREAS): Os CREAS são unidades da assistência social que oferecem atendimento especializado a vítimas de violência, incluindo idosos. Esses centros têm equipes multidisciplinares, formadas por assistentes sociais, psicólogos e outros profissionais, que podem acolher, orientar e encaminhar as vítimas para os serviços adequados, além de tomar as providências necessárias para garantir sua proteção.

 

O combate à violência contra os idosos é um dever de todos

Seja você um agente de combate contra a pessoa idosa! Fique atento a esses sinais que foram destacados, afinal, o idoso é uma responsabilidade não apenas da família, mas também do Estado e de toda a sociedade, conforme a Constituição Federal do nosso país.

 

Aqui no Terça da Serra os nossos idosos são monitorados 24h por um sistema de vigilância que garante total integridade física, realizam atividades sócio-ocupacionais para garantir a sua integridade mental e são fomentados a realizar diversos tipos de atividades sociais para garantir a sua integridade emocional.

Aqui no Terça a proteção e o combate à violência contra idosos é a nossa prioridade, venha conhecer uma das nossas unidades!

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