Meu familiar idoso com alzheimer mente o tempo todo, o que eu faço?

Mentir faz parte da vida de todos nós! Até mesmo Machado de Assis assumiu que “a mentira é muitas vezes tão involuntária como a respiração”. Mas é importante compreender que a mentira na área da demência tem uma outra conotação. Não é a mentira intencional, pois há um comprometimento cognitivo que demonstra que a mentira para a pessoa com demência, na verdade, quer dizer alguma verdade.
Mas fica aqui com a gente que vamos te explicar melhor!

 

A mentira não é proposital

Nós geralmente usamos a mentira para nos livrarmos de situações embaraçosas, lidar com situações desconfortáveis ou até mesmo evitar confronto com as pessoas. Mas no caso da pessoa com demência, diante do seu comprometimento cognitivo e da sua diminuição da capacidade de comunicação e de desenvolver pensamentos muitos complexos não é por aí. Com o avanço da demência, as normas socialmente estabelecidas vão ficando para trás, por isso devemos entender: então qual é o motivo do idoso mentir? Ele faz isso de propósito?
A mentira não é intencional de forma consciente, mas expressa sim um desejo, uma vontade da pessoa idosa de não se sentir envergonhada por perceber que não fez algo que parece certo. Como em muitos casos em que ela esquece um objeto na geladeira que na verdade não deveria estar ali ou quando é questionada e a primeira resposta é dizer que não foi ela que fez aquilo e sim outra pessoa. Esse é um sistema natural de defesa, um sintoma muito comum nos idosos com princípio inicial da demência, pois é um período ainda de muita negação de que ele esteja vivendo esse processo.

 

A obrigação de dizer a verdade

Pensemos então sobre o ponto de vista ético em que a mentira é uma prática errada, não deve ser praticada, sendo assim, a pessoa idosa deve ser corrigida. Quais seriam os benefícios em corrigi-la?
Devemos perceber o que é ético ou não no campo da demência, porque precisamos entender qual foi o motivo da mentira. Precisamos compreender como é que o idoso entende o processo de esquecimento e o que ele sente com isso, para ser possível procurar um profissional capaz de acompanhar e acolher melhor a pessoa idosa durante esse processo.
O objetivo do texto não é apontar erros, nem ditar a forma correta em lidar com essa situação, mas causar uma reflexão sincera: se o idoso por qualquer motivo teve um ato sem sentido, deixou um objeto que não deveria em outro lugar e quando você perguntar, perceber que ele está mentindo, é válido desmentir o que ele disse? Surtirá algum efeito positivo ou benéfico? É sobre essa ótica e perspectiva que devemos pensar quando falamos sobre a demência.

 

O confronto traz insegurança e irritação

Quem convive com idosos sabe muitos deles odeiam ser contrariados em alguns pontos. Acho que o pior deles é quando eles dizem que perderam algo ou que algo foi roubado deles e a pessoa responder “não foi roubado”. Esse confronto de invalidar o que ele diz é uma das maiores fórmulas para garantir que ele fique extremamente agitado, usando de diversos argumentos para comprovar que o que ele está dizendo é verdade. Mais uma vez vamos voltar para a reflexão: não é um ponto de vista do que é certo ou errado, mas de uma abordagem que não faz sentido. Contrariar o idoso e entrar em um confronto para “desmentir” que ninguém lhe roubou será positivo? Surtirá o efeito desejado? Não.
Assim como na mentira terapêutica, a melhor opção é orientar o idoso para a realidade. Então no momento que ele se sentir aflito e disser que lhe roubaram o dinheiro, pergunte a ele “e quanto é que tinha na carteira? Usou parte desse dinheiro para comprar alguma coisa hoje? O que comprou? Quando foi a última vez que viu o dinheiro? Estava com ele quando foi no mercado ontem? E não deixou lá uma parte nas compras?”, são perguntas que não desvalidam o sentimento e as falas do idoso, apenas mudam elas de ângulo, para um foco de reorientação para a realidade.

 

Não é o idoso falando, mas sim o alzheimer!

Devemos entender que aquela agitação, as acusações, não é a pessoa idosa com quem você sempre conviveu que está dizendo, seja sua mãe, seu pai, seus avós ou quem quer que seja. Não é ele que está desconfiando de você, mas sim o alzheimer que está trazendo imagens e informações completamente confusas para a cabeça da pessoa que fazem com que ela diga e faça coisas das quais não faria se estivesse com o seu cognitivo intacto.

 

Temos um post sobre mentira terapêutica aqui no nosso blog, venha conferir mais sobre! Aqui no Terça da Serra possuímos profissionais treinados para cuidar com todo carinho e afeto de idosos com alzheimer. Venha visitar uma de nossas unidades e nos acompanhe nas redes sociais para conhecer nosso dia a dia.

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